Nietzsche
escreveu que o maior peso que poderia recair sobre um ser humano seria a
possibilidade de viver sua vida repetidamente, de novo e de novo, num retorno
sem fim. Inspirava-se no poeta Heinrich Heine, que certa vez comentara que as
próprias coisas que compõe o mundo, os átomos, os quarks, as supercordas, o que
for, são de um número limitado, portanto seus arranjos, por infinitesimalmente precisos que sejam, estão fadados estatisticamente
a acabar se repetindo.
A ideia em
si, creio eu, do alto de meu limitado conhecimento das ciências exatas, é
irrefutável. Dela derivam outras teorias, mais metafísicas, menos metódicas,
mas igualmente dignas de consideração. Camus tomou o mito grego de Sísifo (o
homem que, por ter querido escapar da morte, foi condenado a passar a
eternidade empurrando uma rocha morro acima, apenas para vê-la despencar de
novo e recomeçar) como uma metáfora para o absurdo da vida humana, angustiante
e sem razão; algo semelhante pode ser encontrado no marxismo, segundo o qual o
proletariado, alienado pela ideologia dominante, é forçado a trabalhar para
viver e viver para trabalhar, repetindo mecanicamente todos os seus dias.
Certas religiões também têm sua própria visão do conceito, elaborando sobre
ciclos de vida, morte e reencarnação.
Posta pelo
menos uma dessas considerações como verdadeira (ou mais de uma, ou todas),
ainda me parece que uma suposta característica cíclica do tempo não necessariamente
implicaria na repetição da História ou do pensamento humano. Uma das (talvez a
única, e com certeza a mais notável) vantagens da consciência humana sobre a
divina (a natureza, querendo os ateus) é que a primeira não é limitada por
tempo ou espaço; a própria capacidade de repensar uma situação recorrente já
gera novos significados. Assim é com o “déjà vu”, com aquele pesadelo que se
repete noite após noite, com padrões e paralelismos. Já dissera Borges, em sua
crítica ao Quixote de Menard, que
este era muito superior ao de Cervantes, apesar de os dois serem rigorosamente
iguais.
Portanto, o
tempo é, podemos dizer, uma espiral: circular, repetitivo, padronizado; mas
ainda assim movendo-se em uma única direção, para dentro, dobrando-se sobre si
mesmo.
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