Eu
devo ter morrido sozinho um longo, longo tempo atrás. O que com certeza soa
agora um pouco irônico, mas eu não vejo uma maneira melhor de começar este
texto. Eu tava ouvindo o bom e velho Bowie quando vi aquele maldito anúncio;
além do mais, ser compositor sempre foi tipo um “plano B” imaginário na minha
vida profissional.
O
plano A, claro, foi a paleontologia. A fascinação das crianças com dinossauros
deve ser a única coisa onipresente na humanidade; e, com todos os meus colegas
dando preferência aos empregos da moda, o “por que não?” foi me atormentando
cada vez mais conforme a faculdade se aproximava. A princípio tudo ia se
desenrolando super bem, apesar de o trabalho envolver menos glamour e muito
mais burocracia do que eu imaginava. O problema começou por causa de dinheiro,
claro: as grandes universidades do mundo passaram a ter “dificuldades em lidar
com os custos relacionados à neutralização da radiação” durante as nossas
expedições, e os fundos geralmente escoavam pra pesquisas mais “significativas”
(tipo as relacionadas à neutralização da radiação). Resumo da ópera: perdi meu
emprego menos de cinco anos depois de começar.
Eu
nunca quis ser “dono-de-casa”, mas era o que tinha sobrado pra mim. Na verdade,
eu nunca quis casar; isso costumava ser o motivo mais frequente de briga com o
meu parceiro, o Neil. Ele dizia que eu tinha vergonha de assumir o nosso
relacionamento, mas eu acho que era mais preguiça, mesmo. Tava tudo tão bom do
jeito que tava, porra; só mudou por total falta de opção. Por isso que eu me
animei tanto com o tal anúncio.
“Procura-se
paleontólogo com experiência em descrição de novas espécies. Paga-se bem.”
Tipo, oi? Minha casa tá sendo monitorada? É a mão de Deus tocando a minha vida?
Tá, na real eu não soube bem o que pensar no momento. “Experiência em descrição
de novas espécies” não é exatamente o que se cobra do trabalho de um
paleontólogo; não é como se a nossa habilidade profissional tivesse relação com
os fósseis que a gente vai encontrar (se
encontrar algum, né). Mas enfim, realmente parecia bom demais pra ser verdade;
eu precisava pelo menos conferir do que se tratava. Não falei nada pro Neil,
vesti meu melhor terno e fui pro tal lugar o mais rápido que pude.
Quando
eu cheguei no escritório, tinha mais algumas pessoas na sala de espera; mas
isso nem me preocupou. Eu tinha muita certeza que ninguém mais tava lá pelo
emprego; parecia realmente que ele tinha sido feito pra mim. Enquanto eu aguardava e observava o meu futuro local de
trabalho, uma coisa me chamou a atenção: bem à minha frente, acima do balcão da
secretária, tava pintado na parede (pintado
mesmo, com tinta) o que eu deduzi que fosse o lema da empresa. Dummodo Lucrari ab eo Possimus.
Interessante.
-
O que significa? - perguntei pra senhora, mais pra quebrar o silêncio, mesmo;
eu falo latim desde o colégio.
-
Hmm... - ela hesitou um pouco. - A frase? “Ao Poder através da Crença”.
- Ok. - eu
sorri, meio envergonhado, e baixei a cabeça. Pela confiança da resposta, com
certeza ela realmente acreditava; mas grande coisa, né?
Quando a
minha vez chegou, um sujeito gordo, baixo e careca, o estereótipo encarnado
do “homem de negócios” de uns duzentos anos atrás, me recebeu de
pé na sala dele.
- Dr. Brown.
- quase quebrou minha mão no aperto, e me olhou nos olhos por uns três
segundos. Aquela atitude já me fez sentir como se ele estivesse me julgando;
mas isso só me encorajou ainda mais.
- Sr. Maes. -
respondi, sorrindo tão sinceramente quanto pude.
Ele apontou
pra cadeira e se sentou à minha frente, cruzando os braços e ainda me
encarando com um sorriso ambíguo. Eu esperei que ele dissesse alguma coisa, mas
o silêncio só foi ficando mais constrangedor.
- Senhor…
- Sim, é
verdade - ele me interrompeu, quase gargalhando, tipo… Não sei, como se a
gente fosse grandes amigos. -, me desculpe. Diga, doutor Brown… O que lhe
interessou no nosso anúncio?
- Bem, eu
tenho toda a experiência necessária; toda a minha vida profissional foi
dedicada às pesquisas de campo e à catalogação de espécies. - como a de todo
paleontólogo da Terra, claro; mas não é como se ele fosse saber disso.
- Mas - eu não ia admitir que tinha sido demitido, né? - os
investimentos e as oportunidades têm sido muito limitados, e o que
qualquer pesquisador quer é trabalhar, o senhor entende?
- Ah, sim… É
realmente difícil vender qualquer coisa hoje em dia.
Tá, o
que eu deveria responder? Eu já tava achando a entrevista era uma pegadinha; e de
novo ele ficou me olhando sem dizer nada por vários segundos.
- Certo, direto
ao ponto - aí ele pôs os cotovelos sobre a mesa, entrelaçou os dedos e
finalmente passou a falar sério; não sei se ele me achou muito sem graça ou sei
lá. -: nós vamos fazer um filme, um blockbuster, sobre dinossauros; essas
coisas vendem, sabe? Mas nós precisamos de alguma coisa grande pra atrair a
atenção do público; e tem que ser bom, você sabe, hoje em dia eles encontram
qualquer merda que você pesquisar errado. - ele riu da própria piada; eu ri de
confuso que tava, mesmo. - Aí que você entra, Dr. Brown: nós precisamos de uma
tese profissional sobre algum novo bicho, pra elaborar uma descoberta falsa;
falsa, mas verossímil. Os fãs vão ficar loucos.
-
Uma “descoberta falsa”?
- Sim, exato,
nós vamos divulgar o seu trabalho como se fosse uma descoberta legítima.
Você não precisa se preocupar com essa parte, é a nossa especialidade.
- O meu
trabalho - eu quis mostrar que tava prestando atenção; não sei
lidar muito bem com situações inesperadas, e ele não tava ajudando muito.
-, então, é “inventar” uma espécie?
Nesse ponto o
cara deve ter pensado que eu tinha alguma dificuldade de raciocínio. Tipo, eu
não cheguei a ler o anúncio todo, mas com certeza tava escrito nele que o
contratante era uma agência de publicidade. Ou na porta do escritório? Não sei
como não prestei atenção nisso. De uma forma ou de outra, agora eu via a
impaciência escondida atrás daquele sorriso besta.
- É parte de
um projeto de marketing, basicamente. Tem que parecer real; vai ser
anunciado como real, mas claro que não vai ser real. Uma descrição
fictícia de um dinossauro fictício qualquer, só pra promover o filme.
- Entendi.
- Em um
primeiro momento - ele adicionou, quase sem parar pra respirar. -, tudo
precisa ser realizado em segredo, você entende. Você vai precisar assinar um
termo de sigilo e esse blábláblá burocrático todo. Mas, assim que o primeiro
trailer oficial for lançado, não tem mais problema: você recebe o pagamento,
seu nome aparece nos créditos e é isso. - no que concluiu a exposição
desnecessária, antes de se reclinar na cadeira ele deu um soquinho na
mesa; foi de leve, mas eu tava tão concentrado que me assustei um
pouco.
Eu parei pra
pensar um segundo, tentando ainda parecer entusiasmado. Quer dizer, era uma
ideia bem interessante, mas nem perto do que eu imaginava que seria; aliás, na
pressa com que eu fui pra lá, nem sei se realmente imaginei alguma coisa.
Fora que eu tinha milhões de dúvidas sobre como o meu “estudo” ia se
relacionar com o filme, mas não sabia qual perguntar primeiro (e sem parecer um
idiota).
- Não precisa
se preocupar com os princípios envolvidos, doutor Brown. É um trabalho de
ficção.
- A minha
preocupação não é exatamente ética, senhor. Eu só não sei se… - nesse ponto eu
já tava nervoso demais; ou surpreso, ou envergonhado, sei lá. - Se até faz
sentido imaginar uma espécie nova… Quer dizer, mesmo que fosse plausível em
teoria, nada garante que ela poderia realmente ter existido.
- Você quer
ser filosófico, filho? Então veja, o plausível é a transcendência do
tangível - ele disse isso gesticulando bem devagar, de um lado pro
outro, como se eu fosse um idiota; eu detesto quando fazem isso comigo. -; na
realidade, um é mais real do que outro. Se o sentido do universo não é viver
todas as suas possibilidades, então qual é?
Eu sei que eu
deveria ter pensado em Hegel, ou pelo menos Fort; em vez disso, me lembrei
instantaneamente de Chrono Trigger, o videogame antediluviano. Sim, eu sou esse
tipo de cara.
- Senhor
Maes… - comecei a tentar articular uma réplica praquela lógica bizarra; mas ele
mal me deu tempo pra um meio-sorriso sarcástico.
- Você já ouvir falar do Ludodactylus?
- Senhor Maes - eu tava tão animado e tão confuso que não
conseguia acompanhar a linha de raciocínio dele direito; essa coisa de ficar
pulando de uma ideia à outra, meu deus. -, com todo o respeito, nós não somos
obrigados a memorizar todos os gêneros de…
- Sim, eu sei, rapaz; não seja bobo. O Ludodactylus, veja
que eu fiz minha pesquisa, foi um pterossauro que parecia
impossível quando ele foi encontrado. As empresas de brinquedos sempre
representavam os pterossauros com um bico cheio de dentes e com uma crista tipo
a de um Pteranodon, correto? E essa combinação nunca tinha sido
encontrada na natureza, até a descoberta do Ludodactylus.
Por isso Ludodactylus; “ludus”, “brincadeira” em latim.
Entende onde eu quero chegar?
- Entendo. - pra ser sincero, eu disse isso antes de
terminar de computar tudo.
- Só porque uma espécie nunca existiu, não quer dizer que
não pudesse ter existido, doutor Brown.
Tudo bem, então. Ele tinha razão, na verdade; não é porque
a ideia era forçada e absurda que ela tava obrigatoriamente errada. Eu tinha a
capacidade necessária, precisava do dinheiro, e era bem provável que o
trabalho (do jeito que ele me propôs) me ajudasse a recuperar minha
carreira. O que eu tinha a perder, né?
Eu devo ter chegado em casa com um sorriso maior que a
minha cara, porque na hora o Neil me perguntou se eu tinha arrumado um emprego;
e, depois que eu expliquei tudo (várias vezes, e ignorando a cara irônica
dele), ele veio com o conselho óbvio: era bom demais pra ser verdade. E eu,
sendo eu, evidentemente achei que ele tava só querendo acabar com a minha
animação; peguei meu laptop, deitei na cama e escrevi a porra toda numa
madrugada só.
*
(...) um estegossaurídeo relativamente pequeno, de aproximadamente 3m
de comprimento; consideravelmente semelhante ao seu provável predecessor, o Paranthodon, mas ainda menor. Um exame
microscópico de seus ossos, entretanto, revelou uma densidade típica de
indivíduos adultos. (...) O esqueleto praticamente completo, encontrado na
formação Maevarano no noroeste da ilha de Madagascar, é notável por demonstrar
a presença do grupo Stegosauria muito adiante no período Cretáceo do que se
supunha que houvesse sobrevivido.
Os dois
trechos principais, eu acredito, do abstract de On the stegosaurian remains from the Late Cretaceous of Madagascar.
O título, eu sei, é um pouco “discreto” demais, vamos dizer; mas eu não tinha a
mínima intenção de causar polêmica.
Eventualmente eu precisei mencionar um nome, e esse talvez tenha sido o momento
mais difícil. Fahagaganasaurus Bowiei.
“Fahagagana” é uma palavra malgaxe que significa “milagre” ou, mais
especificamente, “fascínio” ou “assombro” (tradutor google ftw); Bowie, é
claro, é o grande camaleão. Em retrospecto, acho que eu não poderia ter
inventado um nome melhor se tivesse tentado.
Apesar de
tudo, a recepção da farsa foi muito mais quente do que eu tinha imaginado que
seria. Não fui eu que encaminhei o meu “estudo” pra nenhuma revista; só
entreguei pro cara por email, e por um alguns dias quase me esqueci do que
tinha feito. O meu trabalho era só escrever a coisa, não era? Mesmo quando
começaram a aparecer notícias sobre o “novo dinossauro” no jornal, eu não achei assim tão estranho; era o achado
paleontológico mais importante (entenda-se: o único) em anos, e de qualquer
forma todo mundo ama dinossauros. Na época tudo que eu fiz foi contatar a
empresa pra perguntar sobre o meu pagamento, mas a secretária me disse que eles
precisavam assinar uns papeis primeiro ou sei lá o quê. Ok, então. Ia ser o
dinheiro mais fácil da minha vida, não tinha motivo nenhum pra pressa.
Eu só comecei
a me preocupar de verdade quando “me” vi num talk show. Tipo, lógico que não
era eu; era um cidadão qualquer que se apresentou como o responsável por
encontrar os fósseis, usando o meu nome e tudo. Foi uma situação tão surreal
que a primeira coisa que eu pensei foi “porra, eles poderiam ter me chamado!”; mas cinco minutos de
pesquisa e eu descobri que aquela não era nem a primeira entrevista que “eu”
tinha dado. Inclusive pra revistas sérias, que publicaram tudo como se fosse
verdade. Aos poucos o esquema foi fazendo sentido… A companhia que me contratou
aparentemente tinha financiado a suposta “expedição” que desenterrou o
Fahagaganasaurus; e agora eles nem respondiam mais os meus emails e ligações.
Quando eu tentei ir ao escritório em pessoa, eles agiram como se não me
conhecessem e ameaçaram chamar a polícia.
Claro que era
tarde pra pensar nisso, mas eu me senti a criatura mais imbecil da Terra. O
Neil, claro, ficou do meu lado o tempo todo; mas só pelo olhar dele eu sei o
que ele tava pensando de mim.
E daí em
diante a coisa só piorou. Depois de uma denúncia anônima aparecer na mídia,
“eu” resolvi jogar merda no ventilador e admitir tudo: falei que os
patrocinadores tinham me pagado pra inventar uma espécie fictícia, fabricado os
ossos e subornado praticamente todos os institutos científicos ainda em
atividade no mundo pra legitimar a falcatrua. A empresa se defendeu dizendo
simplesmente que aquilo era uma teoria da conspiração ridícula, e que eu tinha
armado o hoax sozinho; e não precisa
ser um gênio pra deduzir em qual versão todo mundo (incluindo o juiz)
acreditou. Não sei se “eu” fui preso de verdade, mas pelo menos foi isso que
passou no jornal.
Basicamente,
eu (eu mesmo) assisti a minha vida
passando e se acabando na minha frente; em silêncio, sem ninguém a quem
recorrer, como se tudo estivesse acontecendo com outra pessoa.
*
Foram alguns
meses de loucura, e eu desisti definitivamente de acessar redes sociais. Na
verdade eu não tinha muito do que reclamar: eu nunca tinha querido ser
dono-de-casa, mas enfim, era o que tinha sobrado. Eu tava feliz, até; ou tinha
me acostumado com aquela mediocridadezinha do dia-a-dia. O Neil tava feliz, pelo menos. Enfim.
Juro que eu
não esperava um email da companhia, tanto tempo depois e sem mais nem
menos. “Blábláblá, acertar os detalhes de sua despensa,
blábláblá" e eu nem li até o fim. Eu seriamente considerei não ir; não
tinha nada deles que eu pudesse querer, e na real o mais provável é que eles
tivessem a intenção de me foder ainda mais. Só que eu me conheço bem o
suficiente pra saber que a minha curiosidade iria acabar me matando se eu não
fosse.
Tudo tava
examente como eu lembrava, parecia que o escritório era feito de
plástico: a mesma secretária com as mesmas frases feitas, o mesmo lema
pintado na parede; acho que até o meu terno era o mesmo. Eu entrei na sala do
chefe como se estivesse sonhando.
- Dr. Brown. - ele se levantou pra me cumprimentar, muito
efusivo; demais, até. - É muito bom ver o senhor novamente.
- Sr. Maes.
- Por favor. - apontou pra cadeira, e se virou antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa; e o que eu poderia dizer? A cara-de-pau do
sujeito era tanta que parecia que ele tava atuando.
- Eu…
- O senhor - ele me interrompia com a mesma tranquilidade
de sempre. - trouxe uma contribuição muito… Peculiar, vamos dizer, pra
nossa empresa.
- Mas…
- Foi um curto período de tempo, mas muito marcante. Em
ambas as nossas vidas, creio eu.
- Sr. Maes - eu tava quase rindo de raiva, já. -, qual
é o motivo desta reunião?
- Ora, a incompetente da Lina não esclareceu no
email? - juro, era como se ele estivesse lendo tudo o que dizia. -
Tenho que demitir essa bruxa. Mas veja, nós queremos acertar os detalhes da sua
despensa.
- Mas eu não
trabalhei aqui nem por um dia!
- É claro que
trabalhou - agora ele se fez de muito sério, quase ofendido. -; você falsificou
uma pesquisa científica, passou meses falando merda da companhia e acabou
demitido. Você não lê as notícias, rapaz?
Eu fiquei
mudo. Pela primeira vez na minha vida, eu fiquei literalmente mudo. O filho da puta tava certo. Eu tinha ficado
completamente louco, criado uma segunda personalidade, uma segunda vida ou coisa assim; daí fiz tudo isso que ele disse que eu
fiz, e depois peguei a amnésia mais seletiva da história da medicina. Era a
única explicação possível.
- Mas - ele
continuou, baixando a mão pra pegar alguma coisa no chão atrás da escrivaninha;
aquele jeito dele de falar era tão educado
que parecia que ele tava sempre segurando uma risada. -, você sabe, eu sou um
homem justo. Uma mão lava a outra, não é assim que dizem?
A mala
deslizou sobre a mesa até parar no meu peito. Eu abri sem pressa nenhuma,
esperando que absolutamente qualquer
coisa no mundo pudesse pular lá de dentro em cima de mim. Qualquer coisa, menos
o que tava lá de verdade.
- Dinheiro,
meu rapaz. - ele debochou, meio impaciente, reclinado pra trás e de braços
cruzados; acho que ele tava ansioso pra ver qual seria a minha reação, e eu mal
conseguindo respirar. Mesmo com todos os trabalhos decentes que eu já tive,
juro que nunca tinha visto tanto dinheiro no mesmo lugar.
Eu sorri, sem
saber se me sentia surpreso, ofendido, agradecido ou abobalhado demais pra
sentir qualquer coisa. Toda a minha esperança de voltar a trabalhar já tinha
sumido; mas, se eu quisesse simplesmente sentar a bunda numa cadeira e não
fazer nada pro resto da vida, agora eu podia.
- Como você se sente? - ele me perguntou, devagar, olhando
fundo nos meus olhos.
- Pra ser bem sincero - e eu sei que possivelmente não
deveria ter sido. -, eu me sinto um pouco como o senhor.
Ele então soltou uma gargalhada absurdamente exagerada, e
bateu com o punho sobre a escrivaninha como um gângster desses que nunca existiram.
- Meu filho, você não deveria morder mais do que pode
engolir! - ele gritou, com o indicador no ar; parecia que tava com raiva e
rindo ao mesmo tempo. - Você é no máximo um Compsognathus;
eu sou um Allosaurus!
Eu ri e apertei a mão dele, e fiz meu caminho de volta pra
casa.