Este mês eu
não tenho nada pra escrever; ou não tinha. Primeiro paradoxo da manhã (são 6h
enquanto digito estas palavras, estas
aqui dentro do parêntese; não sei quando vou terminar), a inspiração pra isto
veio justamente do fato de eu não ter inspiração. Isso já gera uma dúvida
quanto à classificação do texto: antes de ser escrito, poderia talvez ser um
ensaio; depois de escrito, somente uma crônica de ficção. Eu neste momento me
encontro exatamente no meio das duas possibilidades; o leitor, tendo agora já
quase terminado um parágrafo, que o decida.
O tema, pelo
qual passei dias procurando, me veio da forma mais absurda e poética (uma
redundância?) de todas: por acaso. Lendo um conto de Lovecraft, achei uma
menção ao pintor barroco Salvator Rosa, que não conhecia; e, por simples
curiosidade despretensiosa, resolvi pesquisar sobre o sujeito, e acabei
encontrando a frase que escolhi como título. “Ou cala ou fala melhor que o
silêncio” é a tradução mais literal possível; um resultado menos oblíquo seria
obtido com “só fale se o que tiveres para dizer for melhor que o silêncio”. De
um jeito ou de outro, o aforismo mantém uma consonância entre escritor e
escrito: a “falta de conteúdo” compõe o próprio conteúdo da obra, dialogando
num ciclo metalinguístico infinito conforme esta vai sendo construída (ou
descoberta). Suspensão de descrença às favas, o leitor é confrontado com um
texto que se reconhece como texto e
serve de exemplo a seu próprio argumento, o que talvez mude sua perspectiva e o
faça refletir sobre a própria natureza da literatura, quiçá de toda forma de
comunicação humana.
Claro que não
é a solução perfeita. Tentar justificar uma auto-contradição, servindo de
advogado a ambos os lados, pode soar como um disparate (ou uma desculpa anêmica
e cara de pau pra falta de ideias). Não tenho respostas a essas acusações;
confesso que neste momento (são 10h45min agora; nunca escrevo nada de uma
“sentada” só) eu não ainda não sei exatamente como chegar ao fim maroto que
planejei de início. Pode ser que eu mude de ideia até lá.
E, realmente,
eu cheguei a cogitar simplesmente pôr o título lá e deixar o texto em branco.
Genial, n'est-ce pas? Mas talvez aí a
reação emocional do leitor diante da minha preguiça o cegasse pra quaisquer ponderações
que pudessem emanar das minhas, digamos, não-linhas. Talvez eu devesse ter
esperado mais um dia ou dois e procurado um tema melhor; talvez um novo surto
randômico de inspiração se apossasse de mim dez minutos antes da meia-noite do
dia 30. Ou talvez, em verdade, tivesse sido melhor pular este mês; fazer como
sugeriu o artista napolitano, como eu mesmo comentei, como indica o bom senso
(principalmente o de quem trabalha com palavras): ficar quieto, se eu não tinha
nada melhor pra dizer.
Mas acho que
agora é meio tarde pra isso, né?